Tratamento de Transtornos do Sono em Psiquiatria: Comparação entre o Uso de Melatonina, Trazodona e Doxepina

Os distúrbios do sono são comuns entre pacientes psiquiátricos, e tratamentos farmacológicos como melatonina, trazodona e doxepina são frequentemente prescritos. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia e a aceitação desses três medicamentos na melhoria da qualidade do sono e na redução da sonolência diurna em pacientes psiquiátricos.

Metodologia

O estudo foi conduzido com 175 pacientes psiquiátricos com distúrbios do sono no Abbas Institute of Medical Sciences, em Muzaffarabad, Paquistão. Os participantes foram inicialmente randomizados e, em seguida, realocados para um dos três grupos de terapia — doxepina, trazodona ou melatonina — conforme a avaliação clínica. O acompanhamento durou seis meses, de fevereiro a julho de 2024. A qualidade do sono foi medida pelo Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI), a sonolência diurna foi avaliada pela Escala de Sonolência de Epworth (ESS), e a melhoria clínica foi determinada pela escala Clinical Global Impression-Improvement (CGI-I). Os dados antes e após o tratamento foram analisados utilizando o IBM SPSS Statistics for Windows, versão 26.0, com técnicas estatísticas como testes t pareados, ANOVA e testes qui-quadrado.

Resultados

A eficácia e a tolerabilidade dos três medicamentos foram avaliadas com base na melhoria da qualidade do sono e na redução da sonolência diurna em 175 pacientes psiquiátricos (58 para melatonina, 59 para trazodona, 58 para doxepina). A trazodona demonstrou a maior melhoria na qualidade do sono, com redução significativa nas pontuações do PSQI aos seis meses (diminuição média = 7,0, DP = 1,9) e as melhores taxas de melhora no CGI-I (76%, p = 0,02). No entanto, foi associada a efeitos adversos frequentes, como sonolência matinal (15%, p = 0,03) e hipotensão ortostática (10%, p = 0,02). A doxepina melhorou significativamente a continuidade do sono (redução do PSQI = 6,8, DP = 2,1) e apresentou um perfil de tolerabilidade melhor que a trazodona, embora tenha sido associada à boca seca (13%, p = 0,04). A melatonina, embora ligeiramente menos eficaz na melhoria da qualidade do sono (redução do PSQI = 6,1, DP = 2,0), apresentou os efeitos adversos menos frequentes, incluindo as menores taxas de sonolência matinal (5%, p = 0,03) e tontura (10%, p = 0,41), e reduziu significativamente a sonolência diurna (redução do ESS = 3,9, DP = 1,7, p = 0,04). Esses achados destacam a trazodona e a doxepina como os tratamentos mais eficazes, enquanto a melatonina oferece melhor tolerabilidade para pacientes preocupados com os efeitos adversos.

Conclusão

Entre os pacientes psiquiátricos, a trazodona foi o medicamento mais eficaz para melhorar a qualidade do sono, embora não seja uma opção para todos devido aos seus efeitos adversos. Para pacientes mais propensos a efeitos colaterais, a melatonina é uma opção mais segura, enquanto a doxepina oferece um bom equilíbrio entre eficácia e tolerabilidade.

Limitações e Considerações do Estudo

Uma das principais forças (e limitações) deste estudo é o seu design de “mundo real”, com participantes oriundos de ambientes ambulatoriais e hospitalares. Isso levanta a questão de quanto da melhoria do sono se deve ao medicamento do estudo versus a resolução do transtorno de humor ou ansiedade subjacente. Um grupo placebo teria ajudado a esclarecer essa dúvida.

Implicações Clínicas

Apesar dessa limitação, o estudo é valioso ao comparar alternativas comuns aos agonistas de receptores de benzodiazepínicos. Embora a trazodona, a doxepina e a melatonina tenham reduzido as pontuações do PSQI em cerca de 50%, nenhum dos medicamentos, em média, conseguiu reduzir os pacientes abaixo do limite de 5 para insônia. Isso levanta a questão de se ajustes de dosagem poderiam ter sido benéficos.

É também importante lembrar que outros estudos apoiam o uso de técnicas cognitivas comportamentais concomitantes, com ênfase na higiene do sono, para melhorar a resposta à farmacoterapia isolada.

Por fim, este estudo fornece informações valiosas sobre a frequência relativa dos efeitos colaterais. Ao escolher entre essas opções, agora podemos personalizar melhor as recomendações com base nos fatores individuais dos pacientes e na tolerabilidade aos efeitos adversos.

Referência

Mamoon BM, Nawaz A, Khattak M, Amir F, Akbar A, Batool T, Khan S. Addressing sleep disorders in psychiatry: comparing the use of melatonin, trazodone, and doxepin. Cureus. 2024;16(12):e76507.