Um novo estudo publicado recentemente avaliou os possíveis efeitos adversos do uso de metilfenidato e atomoxetina durante a gestação. A revisão sistemática com meta-análise, que analisou dados de mais de 16,6 milhões de gestantes, concluiu que o uso dessas medicações para o tratamento do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) não está associado a um aumento significativo no risco de malformações congênitas ou abortos espontâneos.
A análise incluiu dez estudos observacionais (coortes, caso-controle e registros populacionais) com foco em mulheres com TDAH em uso de metilfenidato ou atomoxetina durante a gestação, comparadas a gestantes com TDAH não medicadas ou à população geral.
Principais Achados:
- Anomalias congênitas: não houve aumento significativo no risco entre os expostos ao tratamento (OR 1,14; IC 95% 0,83–1,55; p=0,41).
- Abortos espontâneos: o risco também não foi significativamente maior (OR 1,15; IC 95% 0,82–1,62; p=0,67).
- Resultados semelhantes foram observados quando a comparação foi feita com a população geral.
- A heterogeneidade entre os estudos foi baixa (I² ≤ 8% para a maioria dos desfechos, exceto um caso com I² = 74%).
Implicações Clínicas
Esses achados reforçam a segurança do uso contínuo de metilfenidato e atomoxetina durante a gravidez, desde que acompanhados de monitoramento fetal de segundo nível. Para especialistas, a manutenção do tratamento pode ser considerada quando os benefícios superarem os potenciais riscos da interrupção — especialmente em quadros de TDAH grave, que podem comprometer o autocuidado materno e aumentar riscos gestacionais indiretos.
Apesar dos resultados favoráveis, os autores destacam a necessidade de estudos adicionais, com maior detalhamento de dosagens, tempo de exposição e desfechos neurocomportamentais a longo prazo.
Contexto
O TDAH afeta cerca de 7% da população jovem, e o número de mulheres em idade fértil diagnosticadas vem aumentando. No cenário clínico, o manejo de pacientes grávidas com TDAH representa um desafio, diante da escassez de dados robustos sobre a segurança dos fármacos utilizados.
A presente meta-análise, ao reunir uma amostra expressiva e seguir diretrizes rigorosas de avaliação (PRISMA), representa uma importante contribuição para a prática clínica baseada em evidências.
Referência
di Giacomo E, Confalonieri V, Tofani F, Clerici M. Methylphenidate and atomoxetine in pregnancy and possible adverse fetal outcomes: a systematic review and meta-analysis. JAMA Netw Open. 2024;7(11):e2443648. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.43648.