Um estudo recente publicado na BMC Psychiatry mapeou, pela primeira vez, uma rede sintomática entre o uso problemático de smartphones (PSU – Problematic Smartphone Use) e a má qualidade do sono (PSQ – Poor Sleep Quality) em adolescentes com depressão. A análise busca compreender de forma mais granular como esses dois fatores interagem e se reforçam, com possíveis implicações clínicas.
Metodologia
Os dados foram extraídos da Cohorte Chinesa de Depressão em Adolescentes, envolvendo jovens entre 12 e 18 anos com diagnóstico de depressão.
As ferramentas utilizadas foram:
- MPAI (Mobile Phone Addiction Index) para avaliar o uso problemático de smartphones;
- PSQI (Pittsburgh Sleep Quality Index) para mensurar a qualidade do sono.
A partir disso, os pesquisadores aplicaram análise de rede de sintomas para identificar os sintomas centrais e os chamados sintomas-ponte, que interligam os dois domínios clínicos.
Resultados Principais
- Sintoma central:
O sintoma mais relevante na rede foi “ansiedade e desejo intenso (craving)”, relacionado ao uso problemático de smartphone. - Sintomas-ponte entre PSU e PSQ:
- Ansiedade e craving
- Disfunção diurna
- Distúrbios do sono
- Desdobramentos clínicos:
A “ansiedade e craving” afeta diretamente os distúrbios do sono, enquanto a “disfunção diurna” (fadiga, dificuldade de concentração) foi o sintoma da má qualidade do sono mais impactado pelo uso excessivo do celular.
Conclusões e Implicações Clínicas
A pesquisa sugere que intervenções direcionadas à regulação das emoções negativas e à redução da fadiga diurna podem ser mais eficazes do que estratégias centradas apenas na limitação do uso de telas.
Para adolescentes com depressão, o uso disfuncional de smartphones pode representar um ciclo vicioso que prejudica o sono e, por consequência, agrava o quadro depressivo. O mapeamento desses sintomas interligados permite estratégias terapêuticas mais precisas e individualizadas.
Referência
Zhou Y, Gong J, Shao J, et al. Symptom network between problematic smartphone use and poor sleep quality in adolescents with depression. BMC Psychiatry. 2025;25:482.