A Revolução dos GLP-1: O Fim da Cirurgia Bariátrica? – DrHub

A Revolução dos GLP-1: O Fim da Cirurgia Bariátrica?

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A ascensão dos agonistas do receptor de GLP-1, como a tirzepatida e a semaglutida, está transformando a abordagem da obesidade. Segundo um artigo publicado no JAMA, esses medicamentos estão impactando diretamente o número de cirurgias bariátricas realizadas nos últimos anos. Diante do avanço dessa nova terapia farmacológica, a pergunta que emerge é: a era da cirurgia bariátrica estaria chegando ao fim?

GLP-1 vs. Cirurgia Bariátrica: Uma Nova Disputa

Historicamente, a cirurgia bariátrica sempre foi considerada o tratamento mais eficaz para a obesidade grave, proporcionando perda de peso sustentada e melhora de comorbidades como diabetes tipo 2, hipertensão e apneia do sono. No entanto, com a popularização dos GLP-1, que promovem redução significativa do peso corporal sem necessidade de um procedimento invasivo, o cenário está mudando rapidamente.

Os números refletem essa tendência:

  • O número de cirurgias bariátricas nos EUA vinha crescendo de 158 mil em 2011 para 280 mil em 2022.
  • Em 2023, com o boom das prescrições de GLP-1 (um aumento de 700% entre 2019 e 2023), houve queda de até 30% no volume de cirurgias.
  • Estimativas apontam que, nos próximos 10 anos, o número de cirurgias pode cair em até 15% devido à crescente adesão aos medicamentos.

Cirurgiões bariátricos relatam que pacientes estão cancelando cirurgias e optando pelo tratamento medicamentoso. Para muitos, a perspectiva de evitar um procedimento invasivo, com anestesia geral e tempo de recuperação, faz dos GLP-1 uma opção mais atraente.


Cirurgia Ainda é a Opção Mais Eficaz?

Apesar da popularidade crescente dos GLP-1, a cirurgia bariátrica ainda supera esses medicamentos em termos de perda de peso a longo prazo:

  • Um ano após a cirurgia, pacientes apresentam perda média de 30% do peso corporal.
  • Com os GLP-1, o pico de perda de peso é menor: 15% com semaglutida e 22% com tirzepatida.
  • Além disso, metade do peso perdido com GLP-1 pode ser recuperado ao interromper o tratamento.

Outro ponto crítico é que a cirurgia não se trata apenas de perder peso, mas também de modificar permanentemente a fisiologia metabólica. Os procedimentos Roux-en-Y e gastrectomia vertical alteram a produção hormonal do corpo, promovendo maior saciedade e mudanças duradouras no metabolismo.


O Futuro: Terapia Combinada ou Escolha Definitiva?

Com o avanço da ciência, surge uma nova possibilidade: combinar cirurgia e medicamentos GLP-1. Pacientes com obesidade grave poderiam utilizar medicamentos antes da cirurgia para perder peso inicial ou como tratamento de manutenção para evitar o reganho de peso.

Além disso, a questão do acesso e custo ainda pesa na decisão. Nos EUA, a cirurgia bariátrica custa entre 17 mil e 26 mil dólares, enquanto os GLP-1 chegam a 1.000 dólares por mês, totalizando 14 mil dólares por ano. Muitas seguradoras ainda consideram ambos os tratamentos como “eletivos”, dificultando o acesso para milhares de pessoas.


Conclusão: Um Novo Paradigma no Tratamento da Obesidade?

O avanço dos GLP-1 desafia a hegemonia da cirurgia bariátrica, mas ainda não a substitui completamente. Apesar da eficácia desses medicamentos, o risco de reganho de peso e a necessidade de uso contínuo levantam questionamentos sobre sua viabilidade a longo prazo. Se os GLP-1 forem realmente a revolução que prometem ser, estaremos diante de um novo paradigma no tratamento da obesidade – uma mudança que pode alterar para sempre a prática da cirurgia bariátrica. Mas será que essa tendência se sustentará nas próximas décadas? Ou a cirurgia continuará sendo a única solução definitiva para a obesidade grave? 

Referências

Schweitzer K. What Does the Rise of GLP-1 Drugs Mean for Bariatric Surgery? JAMA. Published online January 31, 2025. doi:10.1001/jama.2024.25968

Autor: Dr Marcelo Tavares – Cardiologista e Ecocardiografista

  • CRM Nº 9932 | RQE Nº 5331 (Ecocardiografia) | RQE Nº 5330 (Cardiologia)
  • Pós-doutor em cardiologia pelo Incor/USP, Dr. Marcelo é professor de semiologia na UFPB e editor-chefe da Cardiovascular Imaging.
  • Membro do Advisory Board Médico DrHub

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