Uso de Cannabis na Gestação para Depressão e Estresse: Benefício Real ou Risco Subestimado? – DrHub

Uso de Cannabis na Gestação para Depressão e Estresse: Benefício Real ou Risco Subestimado?

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Um estudo de coorte com 504 gestantes revelou que quase metade (46,8%) usou Cannabis durante a gravidez, sendo que 58,1% relataram o uso para alívio de sintomas de saúde mental. No entanto, os achados indicam que a Cannabis não acelerou a melhora dos sintomas de depressão e estresse em comparação com gestantes que não fizeram uso da substância. Os resultados destacam a necessidade de alternativas terapêuticas seguras para gestantes com transtornos emocionais.

Cannabis e Saúde Mental na Gestação: O Que os Dados Revelam?

O uso de Cannabis durante a gestação tem sido amplamente estudado em relação ao impacto na saúde fetal, mas poucos estudos avaliam seus efeitos sobre o bem-estar materno. Este estudo, conduzido pela Washington University School of Medicine, investigou a relação entre o uso pré-natal de Cannabis e sintomas de depressão e estresse ao longo da gestação.

Foram recrutadas 504 gestantes entre julho de 2019 e janeiro de 2024, todas com histórico de uso de Cannabis. O estudo excluiu participantes que relataram uso abusivo de álcool ou outras drogas ilícitas.

A análise incluiu:

• Avaliação da depressão pela Edinburgh Postnatal Depression Scale

• Medida do estresse pela Cohen Perceived Stress Scale

• Autorrelato sobre uso de Cannabis em cada trimestre

• Motivações para o uso durante o primeiro trimestre

• Modelos estatísticos para estimar mudanças nos escores de depressão e estresse ao longo da gestação

Principais Resultados do Estudo

Os achados revelam correlações entre depressão, estresse e uso de Cannabis, mas sem efeitos benéficos evidentes para a saúde mental materna:

• O uso de Cannabis foi positivamente correlacionado com a depressão no primeiro trimestre (r = 0,17; P = 0,004) e com a taxa de variação desses sintomas ao longo da gestação (r = 0,18; P = 0,01).

• Já o estresse e o uso de Cannabis mostraram correlação apenas no primeiro trimestre (r = 0,14; P = 0,004).

• Gestantes que usaram Cannabis por motivos de saúde mental apresentaram escores de depressão mais altos em todos os trimestres e tinham mais do que o dobro de chance de continuar o uso no segundo trimestre em comparação com as demais usuárias (OR = 2,77; IC 95%: 1,41-5,44; P = 0,003).

• Tanto os sintomas de depressão e estresse quanto o uso de Cannabis diminuíram ao longo da gravidez (todas as inclinações < -0,29; erro padrão: 0,23-0,7; P < 0,001).

Embora os sintomas de depressão e estresse tenham diminuído ao longo da gestação em ambos os grupos, não houve benefício adicional para quem usou Cannabis como estratégia de enfrentamento.

Implicações Clínicas e Direcionamento para a Prática

Os achados reforçam que o uso de Cannabis na gestação não deve ser considerado uma opção terapêutica para transtornos emocionais, pois não acelerou a recuperação dos sintomas e ainda pode estar associado a riscos para o feto. Assim, as seguintes recomendações se tornam essenciais na prática clínica:

1. Triagem sistemática de saúde mental – Implementar avaliações regulares de depressão e estresse no pré-natal, utilizando escalas validadas.

2. Abordagem ativa para o uso de Cannabis – Questionar diretamente as gestantes sobre o uso de Cannabis e os motivos relatados para seu consumo.

3. Intervenções baseadas em evidências – Priorizar estratégias seguras e eficazes para o manejo da saúde mental na gestação, incluindo terapia cognitivo-comportamental e suporte psicossocial.

4. Educação e conscientização – Informar as gestantes sobre a falta de eficácia da Cannabis no alívio da depressão e os riscos associados ao seu uso, incentivando abordagens seguras para o manejo do estresse e da saúde mental.

Além do impacto potencial no neurodesenvolvimento fetal, a relação entre o uso de Cannabis e sintomas mais persistentes de depressão sugere que estratégias alternativas de tratamento devem ser reforçadas no cuidado obstétrico.

Limitações do Estudo

Os pesquisadores apontam algumas limitações da análise:

• Auto Reporte do uso de Cannabis, o que pode ter levado a subestimação do consumo real.

• Falta de dados sobre a dose e frequência do uso, o que impede uma avaliação mais detalhada do impacto do consumo.

• População estudada restrita a um hospital acadêmico, limitando a generalização para outras populações.

Mesmo com essas limitações, o estudo reforça a necessidade de maior atenção ao uso de Cannabis na gestação e a importância do acesso a intervenções eficazes para saúde mental nesse período.

Referência

Constantino-Pettit A. Does Prenatal Cannabis Use Actually Help With Depression and Stress During Pregnancy? JAMA Network Open. Publicado em 17 de dezembro de 2024.

Autora: Dra Júlia Alencar – Ginecologista e Obstetra

  • CRM-DF 15418 | RQE 9942
  • Formada pela Universidade Católica de Brasília, com residência no Hospital Materno Infantil de Brasília, Dra. Júlia tem 16 anos de experiência em gestação de alto risco e medicina fetal.
  • Membro do Advisory Board Médico DrHub

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