Tratamento Farmacológico da Ansiedade em Pacientes com Transtornos Alimentares: Evidências e Lacunas

Morris et al. (2025) revisaram sistematicamente a literatura para avaliar a eficácia e segurança do tratamento medicamentoso da ansiedade em pessoas com transtornos alimentares (TA), um tema relevante dado o alto grau de comorbidade e o impacto funcional dessas condições.

Metodologia

  • Tipo de estudo: Revisão sistemática.
  • Fontes: Pesquisas em MEDLINE, Embase, PsycINFO e Cochrane até agosto de 2023.
  • Critérios de inclusão: Ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais avaliando fármacos para ansiedade em indivíduos com diagnóstico de anorexia nervosa, bulimia nervosa ou transtorno de compulsão alimentar.
  • Desfechos: Redução de sintomas ansiosos (escalas padronizadas), impacto nos sintomas alimentares e eventos adversos.

Principais Resultados

  • Evidência limitada: Poucos estudos preencheram os critérios, e a maioria apresentava amostras pequenas.
  • Fármacos avaliados:
    • ISRS (fluoxetina, sertralina) mostraram alguma melhora em sintomas ansiosos, mas resultados inconsistentes.
    • Buspirona e ansiolíticos não benzodiazepínicos apresentaram evidência insuficiente.
    • Benzodiazepínicos tiveram uso restrito por risco de dependência e efeitos adversos, especialmente em pacientes com baixo peso.
  • Impacto nos sintomas alimentares: Redução modesta ou ausente, sugerindo que o tratamento da ansiedade isoladamente não altera significativamente o curso do TA.
  • Segurança: Considerações especiais incluem risco cardiovascular, alterações eletrolíticas e interações com estado nutricional.

Limitações do Estudo

  • Escassez de ensaios clínicos robustos e heterogeneidade nas medidas de resultado.
  • Falta de estudos de longo prazo e em populações diversificadas.
  • Difícil isolar o efeito do tratamento ansiolítico quando usado junto a intervenções psicoterápicas.

Implicações Clínicas

  • O manejo farmacológico da ansiedade em TA deve ser individualizado e, preferencialmente, integrado a psicoterapia específica.
  • ISRS podem ser considerados em casos selecionados, monitorando eficácia e segurança.
  • Evitar benzodiazepínicos como primeira linha, priorizando alternativas não sedativas e não aditivas.
  • Há necessidade urgente de ensaios clínicos bem desenhados para orientar a prática.

Referência

Morris R, Keeler J, Treasure J, Himmerich H. The pharmacological treatment of anxiety in people with eating disorders: a systematic review. Pharmacol Res. 2025 Jun;216:107782. doi:10.1016/j.phrs.2025.107782. Epub 2025 May 14. PMID: 40378942.