Estudo de coorte sueco com mais de 3,5 milhões de indivíduos mostra risco duplicado de morte precoce, especialmente por causas não naturais
Um dos maiores estudos populacionais já realizados sobre saúde mental e risco intergeracional revelou que filhos de pais com transtornos mentais têm risco significativamente maior de morrer até a meia-idade. A pesquisa, publicada em setembro de 2025 no JAMA Psychiatry, analisou dados de mais de 3,5 milhões de indivíduos nascidos na Suécia entre 1973 e 2014, acompanhados até os 51 anos de idade.
Metodologia
O estudo utilizou registros nacionais suecos para identificar diagnósticos psiquiátricos parentais e causas de morte dos filhos. Foram avaliados diferentes tipos de transtornos — desde depressão, transtornos de ansiedade e psicose, até dependência química, transtornos alimentares e deficiência intelectual.
A análise aplicou modelos de riscos proporcionais de Cox e incluiu comparações entre primos, controlando potenciais fatores genéticos e ambientais compartilhados.
Principais Achados
- Durante o seguimento médio de 20 anos, ocorreram 12.725 mortes entre filhos expostos a transtornos mentais parentais, contra 30.087 mortes em não expostos.
- O risco de mortalidade por todas as causas foi mais que dobrado (HR 2,13; IC95% 2,08–2,18).
- Mortes por causas naturais: aumento de 88% (HR 1,88; IC95% 1,83–1,95).
- Mortes por causas não naturais (suicídio, acidentes, violência): aumento de 145% (HR 2,45; IC95% 2,37–2,54).
- Todos os grandes grupos de transtornos parentais foram associados a maior mortalidade dos filhos, variando de HR 1,58 (transtornos alimentares) a HR 2,22 (deficiência intelectual).
- O risco foi ainda mais elevado quando ambos os pais tinham transtornos mentais.
- Os resultados se mantiveram robustos mesmo após comparações dentro de famílias (análises entre primos).
Implicações Clínicas e Sociais
Segundo os autores, os achados reforçam que transtornos mentais não afetam apenas os pacientes, mas também a saúde e longevidade de seus filhos.
“O impacto intergeracional dos transtornos mentais é profundo. O apoio às famílias precisa ir além do indivíduo diagnosticado, contemplando prevenção e suporte à prole”, destacam Hui Wang e Krisztina László, autoras principais do estudo.
Esses dados indicam que políticas de saúde pública devem priorizar intervenções familiares integradas, incluindo apoio psicossocial, monitoramento da saúde física e mental da prole e estratégias de prevenção de mortalidade precoce.
Conclusão
O estudo sueco mostra que filhos de pais com transtornos mentais têm risco duas vezes maior de morrer até a meia-idade, sobretudo por causas não naturais. Os resultados ampliam a compreensão do impacto intergeracional da saúde mental e ressaltam a urgência de estratégias preventivas e suporte familiar direcionado.
Referência
Wang H, László KD. Parental mental disorders and offspring mortality up to middle age. JAMA Psychiatry. Published online September 24, 2025. doi:10.1001/jamapsychiatry.2025.2572





