A parada cardíaca fora do hospital (PCFH) é uma das emergências médicas mais graves, com altas taxas de mortalidade e impacto significativo na saúde pública. Nos últimos anos, diversos estudos buscaram entender quais estratégias podem melhorar a sobrevida desses pacientes, especialmente em relação ao momento da realização da angiografia coronariana.
O Desafio da Sobrevida
A taxa média de sobrevida global de pacientes com PCFH é baixa. Uma meta-análise recente publicada no JAMA Cardiology mostrou que apenas cerca de 7,7% dos pacientes sobrevivem até um ano após a alta hospitalar, com variações de acordo com fatores clínicos e demográficos. A maioria das mortes ocorre nos primeiros 90 dias após o evento, mas mesmo entre os sobreviventes, o risco de complicações neurológicas e cardíacas permanece elevado.
Angiografia Coronária: Imediata ou Tardia?
Uma das principais dúvidas no manejo pós-ressuscitação é se a realização imediata da angiografia coronariana (exame que avalia as artérias do coração) traz benefícios em relação à estratégia tardia ou seletiva, especialmente em pacientes sem elevação do segmento ST no eletrocardiograma.
- Estudos Randomizados Recentes: Ensaios clínicos como o COACT e o EMERGE, além de meta-análises recentes, demonstraram que não há diferença significativa na sobrevida em 1 ano entre pacientes submetidos à angiografia imediata versus tardia ou seletiva após PCFH sem elevação do segmento ST.
- Resultados em Números: No estudo EMERGE, a taxa de sobrevida em 180 dias foi de 34,1% no grupo de angiografia imediata e 30,7% no grupo de angiografia tardia, sem diferença estatística relevante. Uma meta-análise individual de dados de pacientes, publicada em 2025, confirmou que a estratégia imediata não melhora a sobrevida em 1 ano nem reduz complicações neurológicas ou cardíacas.
Fatores que Influenciam a Sobrevida
Além da estratégia de angiografia, outros fatores são determinantes para o prognóstico:
- Ritmo inicial de parada (choque versus não choque)
- Idade e comorbidades
- Tempo até o início da ressuscitação
- Qualidade do suporte básico e avançado de vida
- Presença de lesão coronariana aguda
Reflexão Clínica
Os dados atuais sugerem que, para pacientes hemodinamicamente estáveis e sem elevação do segmento ST após PCFH, a realização imediata da angiografia coronariana não traz benefício adicional em termos de sobrevida ou função neurológica. A decisão deve ser individualizada, considerando o contexto clínico e os recursos disponíveis.
Referências
Amacher SA, Tschan F, Semmer NK, et al. Long-term survival after out-of-hospital cardiac arrest: a systematic review and meta-analysis. JAMA Cardiol. 2022;7(6):595-605. doi:10.1001/jamacardio.2022.1234.
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Spoormans EM, Thevathasan T, van Royen N, et al. One-year outcomes of coronary angiography after out-of-hospital cardiac arrest without ST elevation: an individual patient data meta-analysis. JAMA Cardiol. 2025 May 28. doi:10.1001/jamacardio.2025.1194.
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