Segurança de Psicofármacos na Gestação: Evidências e Recomendações Atualizadas

O estudo de Fabiano et al. (2024) revisa criticamente a segurança do uso de medicamentos psicotrópicos durante a gravidez, oferecendo orientações baseadas nas evidências mais recentes para auxiliar psiquiatras, obstetras e clínicos na tomada de decisão.

Metodologia

  • Tipo de estudo: Revisão narrativa abrangente.
  • Fontes: Busca em bases como PubMed e Embase, contemplando estudos observacionais, ensaios clínicos e metanálises publicados até 2023.
  • Critérios: Foco em antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor, ansiolíticos e hipnóticos.
  • Abordagem: Análise de risco-benefício para mãe e feto, considerando desfechos obstétricos, neonatais e de desenvolvimento infantil.

Principais Resultados

  • Antidepressivos ISRS: Em geral seguros, mas alguns estudos associam paroxetina e fluoxetina a pequeno aumento no risco de malformações cardíacas.
  • Antipsicóticos: Atípicos (como olanzapina e quetiapina) têm perfil de segurança relativamente favorável; atenção a ganho de peso e risco metabólico.
  • Estabilizadores de humor: Lítio associado a risco aumentado de anomalias cardíacas (ex.: Ebstein), mas pode ser mantido com monitoramento rigoroso. Valproato contraindicado devido a elevado risco teratogênico e prejuízo cognitivo fetal.
  • Benzodiazepínicos: Potencial associação a síndrome do bebê hipotônico e abstinência neonatal quando usados no final da gestação.
  • Princípio geral: A interrupção abrupta pode trazer mais riscos (recidiva psiquiátrica) do que a manutenção sob acompanhamento multidisciplinar.

Limitações do Estudo

  • Dados provenientes majoritariamente de estudos observacionais, suscetíveis a viés de confusão.
  • Heterogeneidade metodológica entre estudos dificulta comparação direta dos resultados.
  • Falta de dados robustos para novos psicotrópicos e terapias combinadas.

Implicações Clínicas

  • O manejo deve ser individualizado, considerando gravidade da doença materna, histórico terapêutico e preferências da paciente.
  • Monitoramento fetal e materno rigoroso é essencial, especialmente no uso de lítio, antipsicóticos e politerapia.
  • Educação da paciente sobre riscos e benefícios é parte crucial da adesão e do cuidado compartilhado.
  • Evitar valproato sempre que possível em mulheres em idade fértil e gestantes.

Referência

Fabiano N, Wong S, Gupta A, Tran J, Bhambra N, Min KK, et al. Safety of psychotropic medications in pregnancy: an umbrella review. Mol Psychiatry. 2025 Jan;30(1):327-335. doi:10.1038/s41380-024-02697-0. Epub 2024 Sep 12. PMID: 39266712; PMCID: PMC11649568.