Inovação no Tratamento da Taquicardia: Spray Nasal Pode Evitar Idas ao Pronto-Socorro

Imagine seu paciente controlar uma crise de taquicardia em casa, com um simples spray nasal, sem precisar correr para o hospital. Parece futurista? Pois essa realidade está mais próxima do que nunca. Um estudo recente publicado na JAMA Cardiology revelou que o etripamil, um novo medicamento de aplicação intranasal, pode ser uma alternativa eficaz e segura no tratamento de taquicardia supraventricular paroxística (PSVT) — e com uma vantagem poderosa: autoadministração pelo próprio paciente.

Entenda o Que é PSVT

A PSVT é um tipo de arritmia cardíaca que se caracteriza por batimentos cardíacos acelerados, com início e fim súbitos. Ela pode causar palpitações, tontura, falta de ar e até desmaios. Embora não seja sempre uma emergência, os sintomas são intensos e, por precaução, a maioria dos pacientes acaba buscando atendimento hospitalar.

O Que o Estudo Descobriu?

O estudo, liderado por pesquisadores norte-americanos, analisou dados de dois grandes ensaios clínicos de fase 3 (NODE-301 e RAPID), envolvendo mais de 340 pacientes com histórico de PSVT. Todos os participantes foram orientados a aplicar o spray nasal de etripamil após tentativas frustradas de manobras vagais (como prender a respiração ou tossir), técnicas simples que ajudam a desacelerar o coração.

O objetivo era verificar se o uso do etripamil poderia interromper o episódio e evitar a necessidade de procurar um pronto-socorro. E os resultados foram animadores:

🔹 Principais achados:

  • 57,8% dos pacientes tratados com etripamil conseguiram reverter o episódio em até 30 minutos, contra 32,1% no grupo que usou placebo.
  • Houve uma redução de 39% nas visitas ao pronto-socorro entre os que usaram o medicamento.
  • A necessidade de medicamentos adicionais (como betabloqueadores ou bloqueadores intravenosos) também foi menor.
  • O número necessário para tratar (NNT) para evitar uma visita ao hospital foi de apenas 12 pessoas — um ótimo indicador de eficácia.

Como Funciona o Etripamil?

O etripamil é um bloqueador de canal de cálcio de ação ultrarrápida. A grande inovação está na sua forma de aplicação nasal, que permite que o fármaco entre rapidamente na corrente sanguínea. Com isso, ele age em poucos minutos, reduzindo a frequência cardíaca e encerrando o episódio de arritmia.

E Quanto à Segurança?

Segundo os pesquisadores, o spray nasal foi bem tolerado. Os efeitos colaterais foram leves e temporários, sendo o mais comum uma leve irritação nasal. Não houve registro de eventos adversos graves.

O Que Isso Muda Para os Pacientes?

Até agora, quem sofre com PSVT depende basicamente de:

  • Técnicas vagais (nem sempre eficazes),
  • Remédios de ação lenta,
  • Atendimento hospitalar com aplicação de fármacos intravenosos.

Com o etripamil nasal, o paciente pode agir rapidamente e por conta própria, interrompendo o episódio ainda em casa. Isso significa:

  • Menos idas ao hospital,
  • Menos ansiedade durante a crise,
  • Mais autonomia e qualidade de vida.

Ainda é Cedo Para Uso Generalizado?

Sim, o medicamento ainda não está amplamente disponível e os autores do estudo alertam que mais pesquisas são necessárias, especialmente com públicos mais diversos e em contextos reais (como idosos, pessoas com comorbidades ou em áreas sem acesso fácil à saúde).

Mas a tendência é clara: o futuro da cardiologia caminha para soluções cada vez mais acessíveis, rápidas e centradas no paciente.

Conclusão

O etripamil nasal representa um avanço promissor no tratamento da PSVT. Ao possibilitar o controle domiciliar de episódios que antes exigiam intervenção hospitalar, ele traz mais liberdade e segurança para milhares de pessoas que vivem com essa condição. Ainda em avaliação para uso clínico amplo, ele pode, em breve, mudar protocolos e rotinas na cardiologia.

Referência

Pokorney SD, Deering T, Hsia HH, et al. Self-administered etripamil and emergency department visits in supraventricular tachycardia: secondary analysis of a randomized clinical trial. JAMA Cardiol. 2025;10(6):632–4. doi:10.1001/jamacardio.2025.0417