Um estudo multicêntrico envolvendo mais de 2.000 jovens expostos a traumas revelou que a estrutura dos sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é consistente em adolescentes com e sem diagnóstico de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). A pesquisa, publicada no Journal of Mood & Anxiety Disorders, utilizou análises fatoriais confirmatórias e análise de redes para mapear as conexões entre sintomas e compreender se o TOC altera a manifestação do TEPT.
Contexto
O TEPT afeta até 8% dos jovens até os 18 anos, enquanto o TOC tem prevalência de cerca de 2% nessa população. Quando presentes em conjunto, os dois transtornos apresentam alta sobreposição de sintomas, como pensamentos intrusivos, comportamentos repetitivos e evitação de estímulos associados ao trauma. Essa coexistência, chamada de “comorbidade dinâmica”, pode dificultar o diagnóstico diferencial e influenciar abordagens terapêuticas.
Metodologia
Os pesquisadores analisaram dados do Texas Childhood Trauma Research Network (TX-CTRN), incluindo 2.066 participantes de 8 a 20 anos com histórico de exposição a traumas. Destes, 10,9% tinham diagnóstico de TOC. A equipe comparou os modelos de TEPT de 4 fatores (reexperiência, esquiva, alterações negativas em cognições e humor, e hiperativação) e de 7 fatores (que subdivide esses domínios em dimensões mais específicas, como afeto negativo, anedonia e comportamentos externalizantes).
Principais Achados
- O modelo de 7 fatores apresentou melhor ajuste estatístico, independentemente da presença de TOC, sexo ou idade.
- Jovens com TOC relataram maior gravidade em todos os domínios do TEPT, com destaque para afetos negativos e anedonia, sintomas ligados a humor deprimido, culpa e perda de interesse.
- A análise de redes mostrou que, em jovens com TOC, os sintomas de esquiva estavam mais fortemente conectados a comportamentos externalizantes, sugerindo um padrão específico de interação entre sintomas.
Relevância Clínica
Embora o modelo de 7 fatores traga maior nuance para pesquisa, os autores destacam que sua utilidade clínica ainda é debatida. Por exemplo, as subdivisões podem melhorar a compreensão de como TEPT e TOC interagem, mas não necessariamente justificam mudanças imediatas nos critérios diagnósticos.
Ainda assim, os achados reforçam a importância de avaliações detalhadas em jovens com trauma e TOC, uma vez que esses pacientes apresentam sintomas mais graves de TEPT e podem exigir estratégias terapêuticas integradas, combinando intervenções voltadas tanto para o trauma quanto para os sintomas obsessivo-compulsivos.
Conclusão
O estudo amplia o entendimento sobre como TEPT e TOC coexistem em populações jovens. Segundo os autores, reconhecer as conexões específicas entre os transtornos pode ajudar a aprimorar o planejamento terapêutico e reduzir o risco de diagnósticos imprecisos.
Referência
Pinciotti CM, Cervin M, Drummond KN, et al. The structure of posttraumatic stress symptoms in youth with and without obsessive-compulsive disorder: new insights using factor and network analysis. J Mood Anxiety Disord. 2025;11:100135. doi:10.1016/j.xjmad.2025.100135.