Estudo internacional ADAPT-PD revela que tecnologia responsiva melhora controle motor sem aumentar riscos em comparação à estimulação contínua
A estimulação cerebral profunda (DBS) é uma terapia estabelecida para pacientes com doença de Parkinson (DP) avançada, mas os dispositivos convencionais fornecem estimulação contínua (cDBS), sem ajustar-se às flutuações dinâmicas dos sintomas motores e do efeito da medicação.
Uma inovação promissora é a estimulação adaptativa (aDBS), que ajusta automaticamente a intensidade do estímulo em resposta à atividade neural. Pela primeira vez, o ensaio internacional ADAPT-PD avaliou a eficácia, tolerabilidade e segurança do uso domiciliar de longo prazo da aDBS. Os resultados foram publicados em setembro de 2025 no JAMA Neurology.
Metodologia
- Desenho: estudo internacional, multicêntrico, aberto, com fase randomizada e cruzada (single-blind).
- Participantes: 68 pacientes com DP moderada a avançada (idade média 62 anos), previamente estáveis em cDBS + medicação.
- Intervenções: dois modos de aDBS — single threshold (ST-aDBS) e dual threshold (DT-aDBS).
- Desfecho primário: tempo em “on” (sintomas controlados) sem discinesias problemáticas, comparado a cDBS.
- Desfecho secundário: eficiência energética (TEED – total electrical energy delivered).
- Seguimento: até 10 meses de acompanhamento domiciliar, com opção de extensão por mais de 1 ano.
Principais resultados
- Eficácia motora: 95% (DT-aDBS) e 87% (ST-aDBS) dos participantes atingiram o critério de eficácia primário.
- Energia: redução significativa no consumo elétrico em ST-aDBS (–15%) e tendência semelhante em DT-aDBS.
- Preferência dos pacientes: 98% optaram por continuar em aDBS após a fase de avaliação, citando maior estabilidade motora e menos flutuações de sintomas.
- Exploratórios: DT-aDBS reduziu em média 1,3h/dia de “off” e aumentou 1,4h/dia de “on” em relação ao cDBS.
- Segurança: nenhum evento adverso grave relacionado ao dispositivo foi registrado durante o seguimento. Eventos leves, como insônia e discinesia transitória, foram resolvidos com ajustes de programação.
Implicações clínicas
Segundo a coordenadora do estudo, Helen M. Bronte-Stewart (Stanford University), os resultados demonstram que a aDBS personalizada é tecnicamente viável, segura e clinicamente eficaz em ambiente domiciliar, representando um avanço sobre a DBS convencional.
“Estamos diante de um marco na neuromodulação: um sistema capaz de responder em tempo real à fisiologia cerebral do paciente, oferecendo controle motor mais estável e potencial para prolongar a vida útil das baterias”, afirmam os pesquisadores.
Essa inovação pode beneficiar especialmente pacientes com flutuações motoras complexas ou efeitos adversos da estimulação contínua, além de abrir caminho para sistemas de neuromodulação mais inteligentes em outras condições neurológicas.
Conclusão
O estudo ADAPT-PD mostra que a estimulação cerebral profunda adaptativa personalizada é segura, eficaz e preferida pelos pacientes, superando limitações da cDBS. O uso de biomarcadores neurais em tempo real inaugura uma nova era de neuromodulação de precisão na doença de Parkinson.
Referência
Bronte-Stewart HM, Beudel M, Ostrem JL, et al. Long-term personalized adaptive deep brain stimulation in Parkinson disease: a nonrandomized clinical trial. JAMA Neurol. 2025 Sep 22. doi:10.1001/jamaneurol.2025.2781.





