JAMA Pediatrics publica revisão abrangente sobre tratamentos para pensamentos e comportamentos suicidas em crianças, adolescentes e jovens adultos.
Publicado online em 29 de setembro de 2025 no JAMA Pediatrics, um estudo conduzido por pesquisadores da Mayo Clinic e colaboradores internacionais alerta para a insuficiência de evidências robustas que orientem o tratamento de jovens em risco de suicídio. O trabalho, liderado por Leslie Sim, PhD, e M. Hassan Murad, MD, MPH, avaliou 65 estudos envolvendo mais de 14 mil pacientes com idade média de 15 anos, predominante do sexo feminino, e identificou um cenário de incerteza quanto à efetividade das intervenções atualmente empregadas.
Principais Achados
A revisão sistemática analisou ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais e estudos de intervenção antes-depois, abrangendo diferentes modalidades terapêuticas — psicossociais, farmacológicas, neuroterapêuticas e combinações.
- Terapias psicossociais: A terapia comportamental dialética (DBT) foi a única modalidade com evidência moderada de redução de ideação e tentativas suicidas em adolescentes, sobretudo quando aplicada em programas estruturados de 6 a 12 meses. Outras abordagens, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia familiar focada no apego e programas escolares/comunitários, apresentaram evidências insuficientes ou de baixo nível.
- Intervenções agudas: Estratégias de curto prazo, como planos de segurança, entrevistas motivacionais em situações de crise e contatos de acompanhamento pós-alta hospitalar, não demonstraram superioridade em relação ao tratamento usual.
- Programas escolares e comunitários: Iniciativas de suporte social, treinamento de habilidades e programas de conscientização em escolas não apresentaram impacto consistente na redução de suicídios ou tentativas, embora alguns resultados secundários sugiram benefícios em mortalidade a longo prazo em grupos específicos.
- Farmacoterapia e neuroterapias: A revisão identificou praticamente ausência de estudos avaliando medicamentos, eletroconvulsoterapia, estimulação cerebral ou terapias emergentes, como cetamina, em populações jovens.
Lacunas e Desafios
Os autores destacam a heterogeneidade metodológica, amostras pequenas e períodos de seguimento curtos como fatores que dificultam conclusões mais firmes. Além disso, nenhum dos estudos avaliou eventos adversos, uma limitação crítica considerando a vulnerabilidade dessa população.
Outro ponto relevante é o descompasso entre a magnitude da crise de suicídio na juventude e a escassez de intervenções validadas cientificamente. Apesar de diretrizes, como as da American Academy of Child and Adolescent Psychiatry (AACAP), recomendarem uma variedade de terapias, a maioria dessas recomendações se baseia em consenso de especialistas e não em revisões sistemáticas.
Implicações Futuras
Segundo os pesquisadores, há uma necessidade urgente de:
- Ensaios clínicos bem desenhados, com amostras maiores e seguimento de longo prazo.
- Desenvolvimento de intervenções sensíveis ao desenvolvimento e ao contexto sociocultural dos jovens, em especial os pertencentes a minorias raciais e étnicas.
- Investigação do papel de tratamentos farmacológicos e biológicos emergentes, hoje praticamente ausentes na literatura pediátrica.
- Estratégias de prevenção integradas que considerem trauma, fatores de risco ambientais e gênero, dada a discrepância entre maior mortalidade em meninos e predominância de meninas nas pesquisas.
Referência:
Sim L, Murad MH, Croarkin PE, et al. Suicide interventions for youths: a systematic review. JAMA Pediatr. Published online 2025 Sep 29. doi:10.1001/jamapediatrics.2025.3485