Desigualdades Socioeconômicas na Infância Aumentam Risco de Transtornos Alimentares na Adolescência, Aponta Estudo Britânico

Um estudo de coorte publicado no JAMA Network Open revela que adolescentes de famílias em situação socioeconômica mais baixa apresentam maior risco de desenvolver sintomas de transtornos alimentares, incluindo insatisfação corporal, preocupações com peso e comportamentos alimentares desordenados. A pesquisa utilizou dados de mais de 7.800 participantes do estudo de coorte Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), acompanhados desde a gestação até os 18 anos.

Desenho do Estudo

O trabalho analisou múltiplos indicadores de posição socioeconômica (renda familiar, escolaridade e ocupação dos pais, dificuldades financeiras e nível de privação da área de residência) coletados entre a gestação e os primeiros quatro anos de vida das crianças. Os desfechos incluíram relatos autorreferidos de alimentação desordenada, insatisfação corporal e preocupações com peso e forma aos 14, 16 e 18 anos.

Principais Achados

  • Dificuldades financeiras precoces: cada ponto adicional na escala de privação financeira aumentou em 6% o risco de comportamentos alimentares desordenados (OR 1,06; IC 95% 1,03–1,09).
  • Escolaridade dos pais: filhos de pais cujo nível máximo de instrução foi o ensino obrigatório tiveram 64% mais chances de relatar sintomas alimentares desordenados em comparação a filhos de pais com nível universitário (OR 1,64; IC 95% 1,24–2,16).
  • Renda familiar: adolescentes de famílias nos quintis mais baixos de renda apresentaram risco aumentado de transtornos alimentares aos 14 anos, embora a associação tenha se atenuado nas idades posteriores.
  • Privação de área: residir em regiões mais desfavorecidas esteve associado a maior risco de compulsão alimentar e purgação.

A prevalência de comportamentos alimentares desordenados aumentou progressivamente com a idade: 7,9% aos 14 anos, 15,9% aos 16 e 18,9% aos 18 anos.

Implicações

Os autores destacam que, diferentemente do estigma que associa transtornos alimentares a camadas mais favorecidas, os dados sugerem que a desigualdade social é um fator de risco importante, mas pouco reconhecido. Além disso, barreiras de acesso aos serviços especializados podem levar à subdiagnosticação em populações mais vulneráveis, perpetuando desigualdades em saúde.

“Reduzir as desigualdades socioeconômicas pode não apenas melhorar indicadores gerais de saúde mental, mas também atuar como medida preventiva contra transtornos alimentares”, concluem Hahn e colegas.

Referência

Hahn JS, Flouri E, Harrison A, Lewis G, Solmi F. Family Socioeconomic Position and Eating Disorder Symptoms Across Adolescence. JAMA Netw Open. 2025;8(8):e2527934. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.27934.