Pesquisa alemã identifica ligação entre bebidas açucaradas, alterações na microbiota e risco aumentado de depressão, especialmente em mulheres
O impacto do consumo de refrigerantes na saúde física já é amplamente documentado, mas seus efeitos sobre a saúde mental permaneciam pouco compreendidos. Um novo estudo de coorte multicêntrico, publicado em setembro de 2025 no JAMA Psychiatry, revela que a ingestão frequente dessas bebidas está significativamente associada ao diagnóstico e à gravidade do transtorno depressivo maior (TDM), sendo parcialmente mediada por alterações no microbioma intestinal.
Metodologia
O estudo analisou dados do Marburg-Münster Affective Cohort, incluindo 932 indivíduos (405 com TDM e 527 controles saudáveis), com idades entre 18 e 65 anos.
- Exposição: consumo autorreferido de refrigerantes.
- Desfechos: diagnóstico clínico de TDM e gravidade dos sintomas depressivos.
- Mecanismo explorado: abundância de bactérias intestinais Eggerthella e Hungatella, mensurada por sequenciamento do microbioma.
- Análises estatísticas: regressão multivariada, ANOVA e modelos de mediação.
Resultados principais
- O consumo de refrigerantes aumentou a chance de diagnóstico de TDM em 8% por unidade de consumo (OR 1,081; IC95% 1,008–1,159; p = 0,03).
- A associação foi mais forte em mulheres (OR 1,167; IC95% 1,054–1,292; p = 0,003).
- O consumo também se associou à maior gravidade dos sintomas depressivos (p < 0,001), com efeito mais pronunciado em mulheres (ηp² = 0,036).
- Em mulheres, o consumo foi ligado ao aumento da abundância de Eggerthella (p = 0,007), mas não de Hungatella.
- A análise de mediação indicou que a Eggerthella explicou 3,8% da associação com o diagnóstico de TDM e 5% da associação com gravidade dos sintomas.
Implicações clínicas e de saúde pública
Segundo os autores, liderados por Sharmili Edwin Thanarajah, MD, os resultados sugerem que o consumo de refrigerantes pode contribuir para a depressão por meio de alterações no microbioma intestinal, levantando novas possibilidades terapêuticas.
“Políticas de saúde pública visando à redução do consumo de refrigerantes podem ajudar não apenas no controle de doenças metabólicas, mas também na prevenção de transtornos depressivos”, afirmam os pesquisadores.
Além disso, os achados apontam para a perspectiva de intervenções direcionadas ao microbioma como complemento ao tratamento da depressão.
Conclusão
Este estudo pioneiro demonstra que o consumo de refrigerantes está associado ao aumento do risco e da gravidade da depressão, mediado parcialmente pela abundância da bactéria intestinal Eggerthella. Os resultados reforçam a necessidade de integrar estratégias de nutrição, saúde pública e psiquiatria no enfrentamento dos transtornos depressivos.
Referência
Thanarajah SE, Ribeiro AH, Lee J, Winter NR, Stein F, Lippert RN, et al. Soft drink consumption and depression mediated by gut microbiome alterations. JAMA Psychiatry. 2025 Sep 24. doi: 10.1001/jamapsychiatry.2025.2579. Epub ahead of print. PMID: 40991280; PMCID: PMC12461599.





