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A American Psychiatric Association (APA) atualizou, pela primeira vez desde 2001, suas diretrizes de prática clínica para o transtorno de personalidade borderline. A revisão, publicada em 1º de novembro no American Journal of Psychiatry, traz recomendações baseadas em evidências para avaliação, tratamento e manejo da condição.
De acordo com o Dr. John Oldham, membro do grupo de redação do documento e professor emérito do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais Menninger, no Baylor College of Medicine, as novas diretrizes representam um avanço significativo. “O objetivo geral é melhorar a qualidade do atendimento para pacientes com transtorno de personalidade borderline. O material é uma fonte rica de literatura sobre o transtorno e será extremamente útil para clínicos”, afirmou em entrevista ao Medscape.
Recomendações Baseadas em Evidências
O documento apresenta oito recomendações classificadas conforme o nível de confiança na relação entre benefícios e riscos. Diretrizes indicadas pelo numeral 1 representam maior confiança na eficácia da intervenção, enquanto aquelas com o numeral 2 apontam maior incerteza. Além disso, a força das evidências é categorizada em alta (A), moderada (B) ou baixa (C).
Entre as principais recomendações, a APA sugere que a avaliação inicial de pacientes com possível transtorno de personalidade borderline (1C) inclua:
- Motivo da busca por atendimento;
- Objetivos e preferências do paciente para o tratamento;
- Revisão dos sintomas psiquiátricos e transtornos concomitantes;
- Histórico de tratamentos anteriores;
- Avaliação de saúde física, fatores psicossociais e culturais;
- Exame do estado mental;
- Avaliação do risco de suicídio, automutilação e comportamentos agressivos.
Outra recomendação (2C) destaca a importância do uso de medidas quantitativas na avaliação inicial para determinar a gravidade dos sintomas e direcionar o tratamento. Entre as ferramentas sugeridas estão a versão de 23 itens da Lista de Sintomas Borderline e a Escala de Dificuldade em Regulação Emocional.
Foco na Psicoterapia e Uso Limitado de Medicação
Uma novidade nas diretrizes é a recomendação (1C) de um plano de tratamento documentado, abrangente e centrado na participação ativa do paciente, incluindo psicoeducação. Além disso, a APA reforça a necessidade de uma abordagem estruturada para psicoterapia (1B), com base em tratamentos comprovadamente eficazes, como terapia comportamental dialética e terapia baseada em mentalização.
Em relação ao uso de medicamentos, a associação recomenda (1C) revisar transtornos concomitantes, histórico farmacológico e tratamentos anteriores antes de prescrever novos fármacos. Além disso, sugere (2C) que o uso de medicamentos psicotrópicos seja limitado a curto prazo, para tratar sintomas específicos, como instabilidade afetiva e impulsividade, e facilitar o engajamento no tratamento. A APA recomenda ainda a revisão periódica da medicação a cada seis meses para avaliar sua eficácia e considerar possíveis ajustes ou interrupções (1C).
Modelo Alternativo de Diagnóstico
As diretrizes também mencionam o Modelo Alternativo DSM-5 para Transtornos de Personalidade (AMPD), que vem sendo cada vez mais adotado na prática clínica. Diferente do sistema categórico tradicional, que diagnostica os transtornos de personalidade de forma separada, o AMPD propõe uma abordagem contínua, considerando a variabilidade e a sobreposição dos sintomas.
Embora reconheça a importância do modelo alternativo, a APA esclarece que ele não foi incluído nas novas diretrizes devido à ausência de estudos que atendessem aos critérios de inclusão para a revisão sistemática.
O desenvolvimento das diretrizes não teve financiamento comercial, e o Dr. John Oldham declarou não possuir conflitos de interesse relacionados ao documento.
Referências:
Associação Americana de Psiquiatria (APA). APA atualiza diretrizes sobre transtorno de personalidade borderline. Medscape [Internet]. 1º de novembro de 2024 [citado 2025 fev 26]; Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6512166#vp_2
