Diversos estudos científicos robustos apontam que a amamentação prolongada exerce um papel protetor importante contra o desenvolvimento de obesidade na infância, com evidências sistemáticas apontando para uma relação inversa clara entre tempo de aleitamento materno e risco de excesso de peso.
Pesquisas brasileiras e internacionais, incluindo revisões sistemáticas, demonstram que quanto maior o tempo de amamentação, menor o risco de sobrepeso e obesidade. Por exemplo, um estudo transversal com pré-escolares de São Paulo identificou que crianças amamentadas exclusivamente por pelo menos seis meses apresentaram uma redução significativa do risco de sobrepeso e obesidade (OR=0,57; 95%IC: 0,38-0,86; p=0,02), enquanto aquelas amamentadas por mais de 24 meses tiveram risco ainda menor (OR=0,13; 95%IC: 0,05-0,37; p=0,00) . Outro estudo encontrou efeito “dose-resposta”: prevalência de obesidade caiu de 4,5% entre crianças nunca amamentadas, para apenas 0,8% entre aquelas com aleitamento materno acima de 12 meses . Além disso, cada mês adicional de aleitamento materno pode levar a uma redução de aproximadamente 4% no risco de excesso de peso futuro.
A tendência decrescente de obesidade em regiões brasileiras onde aumentou a prevalência do aleitamento materno continuado reforça a importância dessa prática em políticas públicas de saúde . Análises de séries temporais realizadas entre 2015 e 2019 mostram correlação negativa e significativa entre duração do aleitamento materno e prevalência de obesidade em crianças de 6 a 23 meses, com a prevalência de obesidade caindo ao mesmo tempo em que a amamentação prolongada aumentava .
Os mecanismos biológicos para esse efeito protetor são múltiplos. O leite humano fornece nutrientes ideais, além de hormônios como leptina e adiponectina, que participam do controle do apetite e do metabolismo energético. Crianças amamentadas também parecem desenvolver melhor autorregulação da fome, reduzindo futuros padrões de hiperfagia. Por outro lado, estudos mostram que a introdução precoce de fórmulas e alimentos sólidos (antes dos seis meses) pode antecipar o ganho de peso excessivo e facilitar padrões alimentares menos saudáveis .
Não obstante, fatores ambientais e genéticos, como obesidade parental, prática de atividade física e contexto socioeconômico, também influenciam o risco de obesidade infantil, mas o aleitamento materno se destaca como um fator de proteção relevante, recomendando-se como pilar central para estratégias preventivas de promoção da saúde desde os primeiros meses de vida .
Referências
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