Um dos maiores estudos longitudinais já conduzidos sobre o tema revelou que passar mais tempo em redes sociais entre os 9 e 12 anos está associado ao aumento de sintomas depressivos no ano seguinte — e que essa relação ocorre em apenas uma direção: o uso de redes sociais precede o aumento dos sintomas, e não o contrário.
A pesquisa analisou 11.876 crianças e adolescentes participantes do estudo Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), acompanhados por três anos em 21 centros de pesquisa nos Estados Unidos.
Principais Achados
- Aumento de uso → mais depressão: O tempo acima da média individual de uso de redes sociais foi associado a maiores sintomas depressivos do ano 1 para o ano 2 (β = 0,07; p = 0,01) e do ano 2 para o ano 3 (β = 0,09; p < 0,001).
- Relação unidirecional: Não houve evidência de que adolescentes deprimidos passassem a usar mais redes sociais — o fluxo de associação foi apenas do uso para os sintomas.
- Diferenças entre indivíduos: Entre os participantes, não houve relação significativa entre aqueles que usavam mais redes sociais de modo geral e níveis mais altos de depressão (β = -0,01; p = 0,46).
- Idade média inicial: 9,9 anos, sendo 52% meninos e 48% meninas.
Implicações Clínicas e Sociais
Os resultados reforçam que a pré-adolescência é um período crítico de vulnerabilidade emocional e neurobiológica, no qual a exposição intensa às redes sociais pode amplificar comparações sociais, insônia, ansiedade e ruminação.
A equipe sugere que intervenções precoces — como planos familiares de uso digital e educação sobre consumo consciente de mídia — podem reduzir o risco de sintomas depressivos associados à hiperconectividade.
Contexto
O estudo foi motivado pelo alerta do Cirurgião-Geral dos EUA (2023), que apontou lacunas críticas na pesquisa sobre mídias sociais e saúde mental da juventude. Até então, a maioria dos estudos era transversal, sem determinar se a exposição precedia ou resultava dos sintomas emocionais.
Com base no Modelo de Suscetibilidade Diferencial aos Efeitos da Mídia, os autores defendem que os efeitos não são uniformes — variam conforme idade, personalidade, contexto familiar e histórico de adversidades.
Limitações
- Uso de redes sociais foi autorrelatado, podendo haver viés de memória.
- O estudo é observacional, não permitindo inferir causalidade absoluta.
- Houve perdas de seguimento ao longo dos três anos.
Mesmo com essas limitações, os resultados têm forte validade estatística e consistem no primeiro grande estudo longitudinal a mostrar o encadeamento temporal entre uso de redes sociais e sintomas depressivos em idades tão precoces.
Conclusão
Mais tempo nas redes sociais durante a infância e início da adolescência está prospectivamente ligado ao aumento de sintomas depressivos no ano seguinte.
Esses achados sustentam a necessidade de monitoramento clínico, orientação parental e políticas públicas de saúde digital voltadas à juventude.
Referência
Nagata JM, Otmar CD, Shim J, et al. Social Media Use and Depressive Symptoms During Early Adolescence. JAMA Netw Open. 2025;8(5):e2511704. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.11704





