Por décadas, especialistas alertam sobre a importância de uma boa noite de sono para a saúde. Agora, a American Heart Association (AHA) reforça essa visão ao incluir a duração do sono em sua lista de fatores essenciais para a saúde cardiovascular. No entanto, pesquisas recentes apontam que não basta apenas dormir entre sete e nove horas: outros aspectos, como regularidade, cronótipo e qualidade do sono, são igualmente relevantes.
Sono e Risco Cardiovascular
De acordo com a Dra. Martha Gulati, diretora de Cardiologia Preventiva do Smidt Heart Institute (EUA), há evidências consolidadas de que a privação do sono está associada a doenças coronárias. A médica destaca que a quantidade adequada de sono contribui para pressão arterial controlada, níveis equilibrados de colesterol e peso saudável. Contudo, novas pesquisas indicam que hábitos irregulares de sono também impactam negativamente a saúde do coração.
Um estudo britânico (2023) mostrou que pessoas com cronótipo noturno apresentaram sinais de remodelação cardíaca em exames de imagem, quando comparadas a indivíduos matutinos. Em adolescentes, noites curtas foram relacionadas a alterações estruturais no ventrículo esquerdo e acúmulo de gordura no fígado. O estudo MESA Sleep Ancillary também encontrou maior presença de cálcio coronariano em indivíduos com padrões de sono irregulares.
Mais do que Horas de Sono
Neste ano, a AHA publicou uma atualização científica destacando a necessidade de uma abordagem multidimensional da saúde do sono. Além da duração, parâmetros como horário, regularidade, continuidade, satisfação, sonolência diurna e arquitetura do sono passaram a ser considerados. Pesquisas lideradas pela Dra. Marie-Pierre St-Onge indicam que privação de sono pode aumentar estresse oxidativo nas artérias, reduzir defesa imunológica e prejudicar padrões alimentares, todos fatores que contribuem para doenças cardiovasculares.
Orientação Clínica: Um Novo Desafio
Apesar da ausência de protocolos definidos, especialistas defendem a necessidade de conversar com pacientes sobre sono. “Uma simples pergunta aberta como ‘Como está seu sono?’ pode iniciar um diálogo importante”, afirma a Dra. Marie-Pierre. A Dra. Julie Marcus acrescenta que avaliar o sono, embora complexo, pode revelar fatores de risco modificáveis e abrir caminho para novas estratégias preventivas.
Para a Dra. Martha, o momento é de conscientização: “Precisamos entender como intervenções podem melhorar os componentes do sono e, consequentemente, a saúde cardiovascular”.
Conclusão
Com evidências crescentes, o sono emerge como um pilar fundamental para a prevenção cardiovascular. Incluir essa avaliação na prática clínica pode transformar o cuidado cardiológico nos próximos anos.
Referência
Medscape. A qualidade do sono entra na mira dos cardiologistas [Internet]. 2025 [citado 2025 jul 31]. Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6513078