Burnout ou Injúria Moral? Nova Visão sobre a Crise entre Profissionais da Saúde

O artigo “Health Worker Burnout and Moral Injury: Drivers, Effects, and Remedies”, publicado na Annual Review of Public Health (2025), oferece uma análise crítica e abrangente sobre a crise crescente de burnout entre profissionais da saúde, defendendo que o fenômeno seja interpretado não apenas como esgotamento, mas como injúria moral — um reflexo do colapso ético de sistemas de saúde centrados no lucro.

Principais Achados Clínicos e Implicações Práticas

  • Burnout é sistêmico, não pessoal. Apesar de intervenções individuais (ex.: mindfulness) mostrarem benefícios modestos, os autores destacam que as causas principais estão nas condições de trabalho: sobrecarga, escassez de pessoal, EHRs ineficientes e cultura organizacional tóxica.
  • Dados preocupantes: O burnout em médicos e enfermeiros aumentou significativamente após a pandemia, afetando bem-estar, produtividade e taxas de rotatividade — com implicações diretas na continuidade do cuidado e no aumento de custos.
  • Qualidade e segurança do cuidado: A associação entre burnout e queda na qualidade do atendimento é mais evidente em ambientes hospitalares (ex.: UTI, enfermagem), mas menos consistente em atenção ambulatorial.
  • Inequidade e burnout: O estudo aponta uma lacuna na literatura sobre como burnout pode afetar de forma desproporcional profissionais de grupos minorizados e contribuir para disparidades no cuidado em saúde. Evidências emergentes associam burnout a aumento de viés implícito e decisões clínicas menos equitativas.
  • O conceito de “injúria moral” ganha força: Em vez de atribuir o sofrimento dos profissionais à “falta de resiliência”, os autores propõem que muitos vivenciam um conflito ético profundo ao serem forçados a trabalhar em sistemas que impedem o cuidado compassivo, em favor de metas corporativas e métricas financeiras.

Recomendações Estruturais

  1. Regulamentar a carga de trabalho (ex.: teto para número de pacientes por profissional).
  2. Avaliar criticamente a influência de conglomerados e fundos de private equity na saúde.
  3. Incorporar indicadores de valores organizacionais e clima ético nos programas de qualidade.
  4. Estimular o empoderamento laboral e estudar o papel de sindicatos como fator protetor.
  5. Priorizar intervenções organizacionais, e não apenas individuais.

Referência

Grumbach K, Willard-Grace R. Health worker burnout and moral injury: drivers, effects, and remedies. Annu Rev Public Health. 2025;46:447-65. doi:10.1146/annurev-publhealth-071823-122832.