Prescrição de Medicamentos para TDAH Aumenta — Mas Impacto Clínico Pode Estar Diminuindo

Um grande estudo de coorte publicado no JAMA Psychiatry (junho de 2025) analisou dados de 247.420 indivíduos na Suécia que utilizaram medicamentos para TDAH entre 2006 e 2020. O objetivo foi investigar se os benefícios reais desses medicamentos — como redução de autoagressão, acidentes e criminalidade — se mantêm com o aumento expressivo das prescrições ao longo do tempo.

Crescimento expressivo nas prescrições:

  • Uso de medicação aumentou de 0,6% (2006) para 2,8% (2020) na população geral;
  • Aumento mais pronunciado entre adultos e mulheres;
  • Expansão de tratamento para perfis com sintomas menos graves.

Principais Resultados

Mesmo com o aumento nas prescrições, os medicamentos para TDAH continuam associados a redução do risco de:

  • Autoagressão (IRR: 0,77 a 0,85)
  • Lesões não intencionais (IRR: 0,87 a 0,93)
  • Acidentes de trânsito (IRR: 0,71 a 0,87)
  • Criminalidade (IRR: 0,73 a 0,84)

Porém, a magnitude desses benefícios diminuiu ao longo do tempo, especialmente para acidentes e crimes, mesmo após ajuste por idade e sexo.

Interpretação Clínica

Os achados sugerem que a eficácia “real” dos medicamentos pode estar diluída devido à ampliação do uso para indivíduos com menores níveis de prejuízo funcional. Isso não invalida o benefício da medicação, mas reforça a importância de uma avaliação individualizada, equilibrando riscos e benefícios.

Implicações

  • Reforça a necessidade de revisar periodicamente diretrizes de tratamento, com foco em subgrupos que mais se beneficiam.
  • Indica a urgência de mais pesquisas sobre o uso em casos subclínicos e sobre intervenções complementares (ex: terapia comportamental).

Referência

Li L, Coghill D, Sjölander A, et al. Increased prescribing of attention-deficit/hyperactivity disorder medication and real-world outcomes over time. JAMA Psychiatry. 2025 Jun 25. doi:10.1001/jamapsychiatry.2025.1281