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Um novo exame de sangue realizado em ambiente pré-hospitalar promete revolucionar o atendimento a pacientes com suspeita de acidente vascular cerebral (AVC). O teste pode diferenciar rapidamente entre AVC isquêmico e hemorrágico, possibilitando um tratamento mais ágil e preciso.
O exame mede os níveis da proteína ácida fibrilar glial (GFAP), uma substância liberada na corrente sanguínea quando há danos ou destruição de células cerebrais. Essa proteína já é utilizada para avaliar lesão cerebral traumática, mas agora está sendo estudada para identificar o tipo de AVC no momento do socorro.
De acordo com o Dr. Love-Preet Kalra, do RKH Klinikum Ludwigsburg, na Alemanha, essa inovação pode permitir que pacientes sejam diagnosticados e tratados ainda na ambulância, sem a necessidade de uma tomografia computadorizada. “Isso pode ser muito animador, pois sabemos que uma intervenção mais precoce com tratamentos específicos para cada tipo de AVC pode levar a melhores resultados”, destacou Kalra ao Medscape Medical News.
O estudo mais recente sobre o teste de GFAP foi apresentado por Kalra em 5 de fevereiro, na Conferência Internacional de Derrames Cerebrais (ISC) 2025.
Diferenciação entre AVC isquêmico e hemorrágico
A pesquisa analisou amostras de sangue coletadas de 353 pacientes com suspeita de AVC agudo. Os níveis de GFAP foram medidos utilizando o dispositivo portátil i-STAT Alinity (Abbott) e correlacionados ao diagnóstico final após a alta hospitalar.
Os resultados indicaram que os níveis de GFAP estavam significativamente elevados em pacientes com hemorragia intracerebral (HIC), com uma mediana de 208 pg/mL, em comparação com os pacientes com AVC isquêmico (30 pg/mL) e com AVC simulado (48 pg/mL).
O estudo também mostrou que, em pacientes com déficit neurológico moderado ou grave (NIHSS > 6), um nível de GFAP abaixo de 30 pg/mL poderia excluir a presença de HIC. “No futuro, pode ser possível tratar esses pacientes com trombólise na própria ambulância, e aqueles com suspeita de AVC por oclusão de grandes vasos poderiam ser levados diretamente para um centro especializado em trombectomia”, explicou Kalra.
Dos pacientes analisados, 64 apresentaram níveis de GFAP abaixo de 30 pg/mL. Destes, 60 foram diagnosticados com AVC isquêmico, dois tiveram AVC simulado e outros dois tiveram um HIC pequeno, sem déficit neurológico significativo.
Perspectivas futuras
Os pesquisadores também observaram que os valores de GFAP variam conforme a idade dos pacientes. Em indivíduos com menos de 72 anos, níveis acima de 57 pg/mL estavam associados a um AVC hemorrágico, enquanto em pacientes mais velhos, esse limite variava entre 150 e 160 pg/mL.
Outro achado relevante foi que pacientes com HIC associado ao uso de anticoagulantes apresentaram os mais altos níveis de GFAP, o que pode auxiliar na identificação de casos que requerem administração precoce de antídotos anticoagulantes.
Atualmente, as amostras são coletadas na ambulância, mas analisadas no laboratório do hospital devido à necessidade de centrifugação para isolar o plasma. No entanto, avanços tecnológicos podem permitir que o exame seja feito diretamente em sangue total, facilitando testes rápidos no próprio local de atendimento.
A Dra. Louise D. McCullough, chefe de neurologia do Memorial Hermann-Texas Medical Center, comentou que achou os resultados do estudo “incrivelmente interessantes”. Segundo ela, “foi surpreendente descobrir que um teste no local de atendimento pode diferenciar o AVC isquêmico do hemorrágico. Isso é muito importante porque o tratamento para essas duas condições é completamente diferente”.
Com estudos multicênftricos em andamento, essa abordagem tem o potencial de transformar a assistência a pacientes com AVC, reduzindo o tempo para um tratamento adequado e melhorando as taxas de recuperação.
Referência
Medscape. Ambulance blood test may rapidly identify stroke type. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/ambulance-blood-test-may-rapidly-identify-stroke-type-2025a10003sq.
