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Uma nova análise retrospectiva com quase 2 milhões de gestações revelou um aumento significativo no risco de tromboembolismo venoso (TEV) durante a gravidez entre 2009 e 2019, com um crescimento médio anual de 9,2% (IC 95%: 5,7%-12,9%). Entre os 5.270 eventos registrados, 35,5% foram casos de embolia pulmonar. Os achados reforçam a necessidade de vigilância ampliada e medidas preventivas, especialmente em gestantes com fatores de risco como obesidade, cardiopatias crônicas e tabagismo.
Tendências de Risco e Perfil Epidemiológico
O tromboembolismo venoso é uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna, mas sua incidência vem crescendo de forma alarmante. O estudo, liderado por pesquisadores da Rutgers New Jersey Medical School e Columbia University, analisou 1.970.971 gestações nos Estados Unidos entre 2008 e 2019.
Os dados foram extraídos dos bancos Merative MarketScan Commercial Claims and Encounters e Medicaid Multi-State, abrangendo mulheres de 15 a 54 anos com internação para parto e cobertura contínua de saúde desde um ano antes da concepção até 60 dias pós-parto. Foram excluídas gestantes com histórico prévio de TEV ou uso de anticoagulantes.
Os eventos tromboembólicos foram identificados por meio de códigos diagnósticos combinados ao uso de anticoagulantes prescritos, incluindo apixabana, dalteparina, enoxaparina, fondaparinux, heparina não fracionada, tinzaparin e varfarina.
A análise utilizou regressão joinpoint para avaliar tendências, relatando a variação percentual anual média com intervalos de confiança de 95%.
Principais Achados do Estudo
O risco de TEV aumentou significativamente nos três períodos analisados:
• Período antenatal: aumento médio anual de 8,2% (IC 95%: 3,7%-12,9%)
• Internação para o parto: aumento médio anual de 12,2% (IC 95%: 7,4%-17,3%)
• Pós-parto: aumento médio anual de 8,4% (IC 95%: 5,9%-11,0%)
As análises específicas demonstraram crescimento tanto para embolia pulmonar (APC, 12,4%; IC 95%: 8,6%-16,4%) quanto para trombose venosa profunda (APC, 7,6%; IC 95%: 4,0%-11,3%).
Os fatores de risco com maior impacto foram:
• Cardiopatia crônica: risco aumentado em 3,14 vezes (IC 95%: 2,93-3,37)
• Obesidade: risco aumentado em 1,91 vezes (IC 95%: 1,78-2,05)
• Tabagismo: risco aumentado em 1,61 vezes (IC 95%: 1,34-1,95)
Além disso, condições como idade materna avançada, diabetes, hipertensão crônica e asma foram associadas ao TEV. Entre os fatores obstétricos, cesariana, transfusão sanguínea e hemorragia pós-parto aumentaram o risco de eventos tromboembólicos no período periparto.
Implicações Clínicas e Direcionamento para a Prática
Os resultados deste estudo reforçam a necessidade de protocolos mais rígidos para triagem e prevenção de TEV na gravidez. Na prática clínica, isso implica:
1. Avaliação de risco ampliada: Todas as gestantes devem ser triadas para fatores de risco de TEV no início do pré-natal e reavaliadas durante o terceiro trimestre e no pós-parto imediato.
2. Profilaxia individualizada: Para pacientes de alto risco, considerar o uso de anticoagulação profilática, especialmente no pós-parto, quando o risco permanece elevado.
3. Estratégias para redução de risco: Incentivar controle de peso, cessação do tabagismo e mobilização precoce no pós-operatório de cesáreas.
4. Monitoramento contínuo: Implementar vigilância ativa para sinais de TEV em gestantes hospitalizadas, especialmente em casos de complicações obstétricas associadas.
Com o aumento progressivo da incidência de TEV na gravidez, o fortalecimento de medidas preventivas é essencial para mitigar a morbidade materna e otimizar os desfechos gestacionais.
Limitações do Estudo
Os autores apontam algumas limitações na análise:
• Ausência de dados clínicos detalhados, o que pode levar a erros de classificação e subestimação da incidência real de TEV.
• Mudanças nos padrões de solicitação de exames de imagem ao longo da década podem ter influenciado o aumento de diagnósticos, sem necessariamente refletir um crescimento real do risco.
• A população estudada, embora ampla, não foi projetada para ser representativa de toda a população dos EUA, podendo haver viés de seleção, especialmente entre beneficiárias do Medicaid, que tinham cobertura limitada antes da gravidez.
Referência
Kola O, Friedman A. Maternal Venous Thromboembolism Risk Climbs Steadily: Analysis of Nearly Two Million Pregnancies Raises Concerns. Obstetrics & Gynecology. Publicado online em 08 de janeiro de 2025.
Autora
Dra Júlia Alencar – Ginecologista e Obstetra
- CRM-DF 15418 | RQE 9942
- Formada pela Universidade Católica de Brasília, com residência no Hospital Materno Infantil de Brasília, Dra. Júlia tem 16 anos de experiência em gestação de alto risco e medicina fetal.
- Membro do Advisory Board Médico DrHub