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A polifarmácia em psiquiatria é um tema controverso e de crescente relevância. Embora muitos clínicos busquem evitar a prescrição simultânea de múltiplos medicamentos, as estatísticas apontam para um aumento dessa prática, especialmente entre populações idosas. Nos Estados Unidos, até 65% dos adultos com 65 anos ou mais experimentam polifarmácia, enquanto na Europa as estimativas variam entre 26% e 40%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a situação como preocupante e incentiva a redução da polifarmácia como prioridade de saúde pública.
Crescimento ou Declínio da Polifarmácia Psiquiátrica?
O aumento da polifarmácia na psiquiatria é debatido. Alguns estudos indicam um crescimento modesto entre adultos e um aumento significativo em crianças, enquanto outros sugerem um declínio. No entanto, a definição comumente aceita de polifarmácia — a prescrição de cinco ou mais medicamentos simultaneamente — levanta questionamentos sobre a adequação ou excessos dessa prática.
De acordo com Caleb Alexander, MD, especialista em farmacoepidemiologia e codiretor do Center for Drug Safety and Effectiveness da Johns Hopkins University, “os riscos potenciais aumentam conforme mais medicamentos são adicionados ao regime de um paciente”. Ele destaca a complexidade do tema: “Não se trata apenas de riscos versus benefícios, mas de avaliar ambos em conjunto”.
Polifarmácia Racional: Quando Justifica-se?
Pesquisas revelam cenários diversos. Nos EUA, um estudo nacional mostrou um aumento modesto na polifarmácia entre adultos, passando de 2,1% em 2009-2010 para 2,6% em 2017-2020. Em crianças e adolescentes, no entanto, o aumento foi substancial. Na Austrália, a polifarmácia psicotrópica diminuiu entre 2011 e 2020 em pacientes com demência, mas ainda afetava 20% dessa população.
Robert Buchanan, MD, professor de psiquiatria da Universidade de Maryland, aponta que “nem todos os pacientes respondem adequadamente a monoterapias, tornando necessária a combinação de medicamentos”. Apesar de inicialmente ser contra a polifarmácia antipsicótica, Buchanan hoje reconhece que “alguns estudos indicam que, em certos casos, a polifarmácia pode reduzir riscos de hospitalização e ser mais eficaz em exacerbações agudas”.
O Dilema da Desprescrição
Uma grande preocupação da polifarmácia é a dificuldade de reduzir o uso excessivo de medicamentos. Segundo Alexander, “em muitos casos, a única forma de saber se um medicamento é realmente necessário é reduzi-lo gradualmente e observar o impacto”. No entanto, a desprescrição não é um foco comum na formação médica, e a falta de diretrizes claras torna o processo ainda mais difícil.
Buchanan acrescenta que a estabilidade dos pacientes muitas vezes impede a redução dos medicamentos. “Se um paciente está estável tomando cinco ou sete medicamentos, como identificar qual é essencial?” Essa dificuldade é agravada pela falta de tempo para avaliações profundas em consultas psiquiátricas.
O Impacto do Envelhecimento
O envelhecimento torna a polifarmácia ainda mais complexa. Alexander explica que “a reserva fisiológica dos órgãos diminui com a idade, tornando os idosos mais vulneráveis a efeitos adversos”. Ele alerta que “queda de equilíbrio, interações medicamentosas e riscos de eventos adversos aumentam consideravelmente nessa população”.
Conclusão
A polifarmácia em psiquiatria não pode ser classificada como totalmente benéfica ou prejudicial. Seu impacto depende do contexto clínico e da gestão dos medicamentos. O desafio é equilibrar a necessidade de tratamentos eficazes com a segurança dos pacientes, reduzindo prescrições desnecessárias sem comprometer a estabilidade psiquiátrica.
“Medicamentos não são inerentemente bons ou ruins. Seu valor depende de como são aplicados”, resume Alexander. O caminho ideal está na arte e na ciência da medicina, exigindo uma abordagem cuidadosa para garantir o melhor tratamento possível para cada paciente.
Medscape. Polypharmacy in Psychiatry: Good, Bad, or Just Unavoidable? [Internet]. 2025 [citado 2025 Mar 10]. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/polypharmacy-psychiatry-good-bad-or-just-unavoidable-2025a10005od