Monitoramento Prolongado e Personalizado: A Nova Abordagem para Reduzir o Risco de Reocorrência de AVC – DrHub

Monitoramento Prolongado e Personalizado: A Nova Abordagem para Reduzir o Risco de Reocorrência de AVC

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O consenso de 2024 do American College of Cardiology traz uma abordagem inovadora e prática para o monitoramento de arritmias em pacientes pós-AVC, tema de extrema relevância diante do impacto devastador que o acidente vascular cerebral exerce sobre a saúde pública. O artigo, intitulado “2024 ACC Expert Consensus Decision Pathway on Practical Approaches for Arrhythmia Monitoring After Stroke”, fornece diretrizes claras e embasadas para a detecção de fibrilação atrial (AF) – frequentemente silenciosa e subclínica – que, quando identificada, pode modificar de forma decisiva a estratégia terapêutica, sobretudo no que diz respeito à indicação de anticoagulação para prevenção secundária de AVC.

A relevância desta iniciativa reside no fato de que, enquanto o AVC continua a ser uma das principais causas de mortalidade e incapacidade, a etiologia cardioembólica, com a AF como protagonista, representa uma parcela considerável desses eventos. Tradicionalmente, o diagnóstico de AF baseava-se em registros eletrocardiográficos intermitentes, que muitas vezes falhavam em captar episódios paroxísticos e transitórios. O consenso destaca a importância de monitoramento prolongado, utilizando desde dispositivos externos até monitores implantáveis, para aumentar a taxa de detecção e, assim, oferecer aos clínicos a oportunidade de intervir de maneira mais assertiva.

Entre os pontos-chave abordados, destaca-se a diferenciação entre tecnologias médicas de monitoramento e dispositivos de uso direto ao consumidor. O documento enfatiza que, apesar do rápido avanço e popularização dos aparelhos de monitoramento “consumer-grade”, como smartwatches e aplicativos baseados em fotopletismografia (PPG), a precisão e a robustez dos dispositivos médicos – com aprovação regulatória e capacidade de fornecer registros eletrocardiográficos contínuos – permanecem essenciais para a tomada de decisão clínica. Estudos recentes, citados no consenso, demonstraram que o monitoramento contínuo por meio de dispositivos como monitores de ECG ambulatoriais e implantáveis aumenta significativamente a detecção de AF, revelando taxas que variam de 12% a mais de 20% em diferentes populações de pacientes pós-AVC.

Além disso, o artigo discute a importância de personalizar a abordagem de monitoramento de acordo com o risco individual do paciente. Fatores como história de insuficiência cardíaca, aumento do átrio esquerdo e escores de risco, como o CHA₂DS₂-VASc, ajudam a identificar aqueles que se beneficiariam mais do monitoramento prolongado. Essa estratificação não apenas otimiza os recursos, mas também melhora a relação custo-benefício, ao evitar intervenções desnecessárias em pacientes de baixo risco.

Do ponto de vista terapêutico, o consenso reforça que a detecção de episódios de AF, mesmo que breves, pode ter implicações significativas na escolha entre terapia antiplaquetária e anticoagulação. Embora haja debate sobre o limiar mínimo de duração da AF que justifique a iniciação de anticoagulação, os dados apresentados apontam para benefícios na redução do risco de novos eventos embólicos em pacientes com episódios superiores a 5 minutos, sobretudo quando associados a um escore de risco elevado. Essa abordagem fundamentada em evidências oferece aos médicos um caminho para a tomada de decisão, incorporando tanto os riscos quanto os benefícios de intervenções terapêuticas baseadas na monitorização.

No entanto, o consenso também traz à tona os desafios que se impõem na prática clínica. A variabilidade na duração e no tipo de monitoramento, bem como a interpretação dos dados obtidos – que podem gerar falsos positivos devido a artefatos ou contrações ectópicas – exigem um rigor metodológico e a colaboração multidisciplinar entre neurologistas, cardiologistas e eletrofisiologistas. Essa integração de saberes é fundamental para que as informações geradas pelos dispositivos de monitoramento sejam corretamente interpretadas e traduzidas em estratégias de manejo que realmente melhorem os desfechos dos pacientes.

Em suma, o “2024 ACC Expert Consensus Decision Pathway on Practical Approaches for Arrhythmia Monitoring After Stroke” representa um avanço significativo ao fornecer um roteiro detalhado e adaptável para a detecção de arritmias pós-AVC, incentivando uma prática clínica mais proativa e personalizada. Ao mesmo tempo em que destaca o potencial dos novos dispositivos e das tecnologias emergentes, o consenso desafia os médicos a refletirem sobre como integrar essas ferramentas de forma segura e eficaz no cotidiano da assistência, abrindo caminho para futuras pesquisas que possam refinar ainda mais essas estratégias e, assim, reduzir o impacto dos AVCs na população.

Referência:


Spooner MT, Messé SR, Chaturvedi S, Do MM, Gluckman TJ, et al. 2024 ACC Expert Consensus Decision Pathway on Practical Approaches for Arrhythmia Monitoring After Stroke. J Am Coll Cardiol. 2024; doi:10.1016/j.jacc.2024.10.100.

Autor

Dr Fidel Meira – Neurologista

  • CRM-MG 40.626 | RQE 26.249
  • Especialista em neurologia pelo Hospital Madre Teresa, Dr. Fidel é presidente da Sociedade Mineira de Neurologia e entusiasta das inovações tecnológicas na saúde.

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