
Colchicina no Infarto Agudo do Miocárdio: Um Futuro Promissor ou um Caminho Sem Saída?
11/03/2025
A Relação Entre Diabetes e Alzheimer
A metformina, um dos medicamentos mais prescritos para o tratamento do diabetes tipo 2, pode ter um papel inesperado na prevenção da doença de Alzheimer. Um estudo recente publicado na revista Brain sugere que o fármaco pode reduzir o risco da doença ao aumentar os níveis solúveis de amiloide-β42, uma proteína fundamental para a fisiologia neuronal.
O Estudo: Como a Metformina Pode Proteger o Cérebro?
Pesquisadores analisaram uma coorte populacional de 14.558 idosos com diabetes tipo 2 e observaram que o uso de metformina esteve associado a um efeito protetor dose-dependente contra a doença de Alzheimer. Além disso, estudos laboratoriais demonstraram que a droga estimula a produção de Aβ42, um peptídeo solúvel que parece desempenhar um papel neuroprotetor ao ser liberado das placas amiloides.
Os resultados foram correlacionados com outra meta-análise que analisou 26.000 pacientes com Alzheimer, mostrando que medicamentos capazes de aumentar os níveis de Aβ42 no líquido cefalorraquidiano (LCR) estão associados a uma progressão mais lenta da doença.
O Papel da Metformina no Alzheimer
O mecanismo de ação da metformina na neuroproteção pode ser multifatorial:
- Regulação do metabolismo da glicose, reduzindo a resistência à insulina no cérebro.
- Aumento da produção de Aβ42, possivelmente por meio da ativação da AMPK (proteína quinase ativada por AMP), que regula a expressão da β-secretase (BACE1), enzima-chave na formação do peptídeo amiloide.
- Modulação da autofagia, facilitando a degradação de proteínas agregadas e reduzindo o estresse oxidativo neuronal.
Esses achados sustentam a hipótese de que a metformina poderia ser utilizada como um agente preventivo para Alzheimer, independentemente do status diabético do paciente.
Evidências Clínicas e Estudos em Andamento
Estudos longitudinais apontam que pacientes com comprometimento cognitivo leve (CCL) tratados com metformina apresentam níveis mais altos de Aβ42 no LCR. Em modelos animais, a administração do fármaco dobrou a produção do peptídeo, sugerindo um efeito positivo na preservação da função cognitiva.
Atualmente, um ensaio clínico duplo-cego e controlado por placebo, o Metformin in Alzheimer’s Dementia Prevention study, está recrutando 326 indivíduos com CCL e sem diabetes para avaliar os efeitos da metformina na cognição ao longo de 18 meses. O estudo inclui biomarcadores como volume do hipocampo, marcadores plasmáticos de amiloide e tau, além de testes neuropsicológicos detalhados. Os resultados são esperados para 2027.
Limitações e Perspectivas Futuras
Embora os dados sejam promissores, algumas questões permanecem sem resposta:
- O aumento de Aβ42 é sempre benéfico ou pode ter efeitos adversos a longo prazo?
- Qual a dosagem ideal para obter benefícios neuroprotetores sem alterar a homeostase amiloide?
- O efeito da metformina depende da presença de fatores de risco, como resistência à insulina ou predisposição genética?
Essas perguntas reforçam a necessidade de mais estudos controlados e de longo prazo para confirmar o potencial da metformina como um tratamento preventivo eficaz para Alzheimer.
Conclusão: Uma Nova Fronteira para a Metformina?
O estudo sugere que a metformina pode desempenhar um papel além do controle glicêmico, possivelmente reduzindo o risco de Alzheimer ao aumentar os níveis solúveis de Aβ42. Se esses achados forem confirmados por ensaios clínicos, a metformina pode se tornar uma opção viável para a prevenção da doença neurodegenerativa mais prevalente no mundo.
Referência
DALY, Timothy; IMBIMBO, Bruno P. Metformin may reduce Alzheimer’s disease risk by increasing soluble amyloid-β42 levels. Brain, [s.l.], v. 148, n. 3, p. e14–e15, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.1093/brain/awae367.