Interromper Antidepressivos na Gravidez Pode Ser Perigoso, Aponta Estudo

A depressão é um problema de saúde significativo, especialmente durante a gravidez e o período pós-parto. No entanto, um estudo recente publicado no JAMA Network Open revelou uma tendência preocupante: quase metade das mulheres interrompe o uso de antidepressivos durante a gestação.
A pesquisa, conduzida por Claire Boone, PhD, da Universidade McGill, em Montreal, junto a especialistas de Stanford e Chicago, analisou os padrões de prescrição de antidepressivos em mais de 385.000 mulheres antes, durante e depois da gravidez. Os resultados mostraram que o uso dessas medicações caiu de 4,3% antes da gravidez para 2,2% durante a gestação, representando uma queda de 48,8%.

O Perigo da Interrupção Abrupta
A descontinuidade dos antidepressivos durante a gravidez ocorre, em grande parte, devido ao receio de malformações e outros efeitos adversos no bebê. No entanto, Wolfgang Paulus, MD, do Reproductive Toxicology Advisory Center da Alemanha, alerta para os riscos dessa decisão. Segundo ele, muitas mulheres entram em contato desesperadas semanas depois, pois não conseguem lidar com a rotina diária sem a medicação. Como consequência, acabam retomando o tratamento em doses mais altas.
Além disso, a pesquisa revelou que, após o parto, o uso de antidepressivos volta aos níveis anteriores, indicando que a necessidade de tratamento persiste, mas a gravidez gera um receio que leva à interrupção.

Antidepressivos e Riscos para o Bebê
Muitos profissionais de saúde ainda recomendam que as gestantes suspendam o uso de antidepressivos antes do parto, o que pode aumentar os riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Entretanto, o estudo aponta que os medicamentos mais comumente prescritos para mulheres em idade fértil, como sertralina, escitalopram e citalopram, não apresentam associação significativa com malformações.
Uma meta-análise de 2018, que avaliou mais de 9 milhões de nascimentos, indicou um leve aumento no risco de malformações relacionado aos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs). No entanto, esse risco desapareceu quando se compararam gestantes que tomavam antidepressivos com outras que também tinham depressão, mas não recebiam tratamento medicamentoso. Isso sugere que a própria doença pode ser um fator de risco maior do que a medicação.

Impacto no Desenvolvimento Infantil
Há preocupações sobre possíveis transtornos de adaptação em bebês expostos aos antidepressivos no útero, como respiração irregular e tremores. No entanto, esses sintomas costumam ser leves e desaparecem sem necessidade de intervenção médica significativa.
Estudos de longo prazo também não encontraram relação direta entre o uso de antidepressivos na gravidez e transtornos neurológicos, como TDAH e autismo. Uma pesquisa com mais de 100.000 mulheres nos Estados Unidos mostrou que, quando se comparavam irmãos nascidos da mesma mãe, não havia diferenças significativas no desenvolvimento das crianças. Isso reforça a hipótese de que os impactos negativos são mais atribuíveis à depressão materna do que à medicação.

Recomendação dos Especialistas
Os especialistas recomendam que mulheres que já fazem uso de antidepressivos devam continuar o tratamento com doses moderadas durante a gestação. É essencial que a decisão seja tomada de forma informada, considerando tanto os riscos da depressão não tratada quanto os possíveis efeitos da medicação.
Paulus enfatiza que o objetivo deve ser equilibrar o bem-estar da mãe e a saúde da criança. “A recomendação clara é continuar com os ISRSs estabelecidos em doses moderadas”, conclui.
Com base nesses achados, fica evidente que o suporte adequado às gestantes com depressão é essencial para garantir sua saúde e a do bebê. O acompanhamento profissional e a tomada de decisão baseada em evidências podem ajudar a evitar complicações decorrentes da interrupção abrupta do tratamento.

Boone C, Paulus W. Antidepressivos na gravidez: a retirada repentina é arriscada. Medscape [Internet]. 2025 [citado em 11 de março de 2025]. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/antidepressants-pregnancy-sudden-withdrawal-risky-2025a10004om