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Uma nova análise retrospectiva publicada no JAMA Network Open revela que as taxas de morbidade materna grave (MMG) são cinco vezes maiores quando a pré-eclâmpsia se desenvolve durante a gestação, independentemente da presença de hipertensão crônica.
Em contrapartida, pacientes com hipertensão crônica não complicada, que não desenvolvem pré-eclâmpsia, apresentam apenas um pequeno aumento no risco de MMG, próximo ao das gestantes sem distúrbios hipertensivos.
Risco de Morbidade Materna Grave e a Influência da Pré-eclâmpsia
A hipertensão crônica na gestação é um fator de risco conhecido para desfechos maternos adversos, mas seu impacto isolado na morbidade materna grave ainda é debatido. Este estudo de coorte, avaliou a influência da pré-eclâmpsia sobre esse risco.
Foram analisados 263.518 prontuários de gestantes atendidas entre 2009 e 2019, todas sem doenças cardíacas, renais ou hepáticas prévias. As pacientes foram categorizadas em cinco grupos:
• Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superimposta
• Hipertensão crônica sem pré-eclâmpsia
• Sem hipertensão crônica, mas com pré-eclâmpsia
• Hipertensão gestacional
• Sem hipertensão crônica nem pré-eclâmpsia
A morbidade materna grave foi definida segundo os critérios do CDC, com base em 21 indicadores clínicos extraídos de registros eletrônicos. Modelos de regressão de Poisson ajustados estimaram os riscos relativos, considerando variáveis clínicas, sociodemográficas e comportamentais.
Principais Resultados do Estudo
Entre as 263.518 gestantes analisadas, 13.626 (5,2%) tinham hipertensão crônica. Destas, 31,5% desenvolveram pré-eclâmpsia superimposta, enquanto 4,7% das gestantes sem hipertensão crônica apresentaram pré-eclâmpsia.
Os grupos com maior incidência de MMG foram:
• Sem hipertensão crônica, mas com pré-eclâmpsia: 934,3 casos por 10.000 nascimentos (IC 95%: 882,3-988,3)
• Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superimposta: 898,3 casos por 10.000 nascimentos (IC 95%: 814,5-987,8)
Comparando com gestantes sem hipertensão crônica nem pré-eclâmpsia, os riscos relativos ajustados foram:
• Pré-eclâmpsia isolada: aumento de 5,12 vezes no risco de MMG (IC 95%: 4,79-5,48)
• Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superimposta: aumento de 4,97 vezes no risco de MMG (IC 95%: 4,46-5,54)
• Hipertensão crônica sem pré-eclâmpsia: risco marginalmente elevado (RR ajustado: 1,17; IC 95%: 1,003-1,36; p = 0,046)
Implicações Clínicas e Direcionamento Prático
O estudo reforça que a pré-eclâmpsia, e não apenas a hipertensão crônica, é o principal fator de risco para morbidade materna grave. Entre as gestantes com hipertensão crônica, 70% não desenvolveram pré-eclâmpsia e tiveram um risco de MMG apenas 17% maior que o das gestantes sem distúrbios hipertensivos.
Na prática clínica, isso destaca a necessidade de:
1. Monitoramento intensificado: rastrear precocemente sinais de pré-eclâmpsia em gestantes hipertensas.
2. Individualização da triagem: considerar que a hipertensão crônica isolada não necessariamente implica em maior risco de MMG.
3. Prevenção direcionada: utilizar estratégias para minimizar a progressão da hipertensão crônica para pré-eclâmpsia, como suplementação com aspirina em grupos de risco.
4. Educação e acompanhamento das pacientes: informar sobre sinais precoces de complicação e reforçar a adesão ao pré-natal de alto risco.
Esses achados têm o potencial de redefinir o manejo clínico de gestantes hipertensas, enfatizando a importância da prevenção da pré-eclâmpsia para reduzir a morbidade materna grave.
Referência
Gunderson EP, et al. Severe Maternal Morbidity and Preeclampsia in Pregnant Patients With and Without Chronic Hypertension. JAMA Network Open. 2025;8(1):e2456153. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.56153
Autora: Dra Júlia Alencar – Ginecologista e Obstetra
- CRM-DF 15418 | RQE 9942
- Formada pela Universidade Católica de Brasília, com residência no Hospital Materno Infantil de Brasília, Dra. Júlia tem 16 anos de experiência em gestação de alto risco e medicina fetal.
- Membro do Advisory Board Médico DrHub