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A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) sempre representou um desafio significativo para a medicina. Por décadas, pacientes diagnosticados com essa condição tinham poucas opções de tratamento, enfrentando altos índices de mortalidade nos cinco anos seguintes ao diagnóstico. No entanto, avanços recentes estão mudando esse panorama, trazendo novas esperanças para médicos e pacientes.
Novas Descobertas Revolucionam o Tratamento
Desde 2021, novos medicamentos demonstraram efeitos positivos na redução de hospitalizações e mortalidade associadas à ICFEP. A evolução tem sido rápida, com um novo ensaio clínico surgindo a cada ano e ampliando as opções terapêuticas. A Dra. Michelle Kittleson, professora de cardiologia no Smidt Heart Institute do Cedars-Sinai, destaca essa mudança como um marco histórico. “Há alguns anos, era difícil conversar com pacientes sobre a condição, pois não hávíamos medicamentos eficazes. Agora, podemos oferecer ferramentas que melhoram significativamente a qualidade de vida”, afirma.
O Dr. Marco Metra, diretor do Instituto de Cardiologia da ASST Spedali Civili e professor da Universidade de Brescia, reforça essa visão. Segundo ele, a realidade do tratamento da ICFEP passou por um ponto de virada, permitindo que especialistas revisem diretrizes e enfoquem no diagnóstico precoce para garantir uma intervenção mais eficaz.
Os Medicamentos que Estão Mudando o Jogo
Os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (SGLT2) foram os primeiros avanços significativos, com os ensaios EMPEROR-Preserved e DELIVER demonstrando redução substancial de hospitalizações e possivelmente da mortalidade cardiovascular. O impacto dessas drogas foi tão expressivo que, em 2023, as diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) e do American College of Cardiology (ACC) foram atualizadas para incluir os inibidores de SGLT2 como opção terapêutica.
Em 2023 e 2024, os agonistas do peptíde semelhante ao glucagon 1 (GLP-1), como semaglutida e tirzepatida, apresentaram resultados promissores para pacientes com ICFEP e obesidade. Embora o impacto cardiovascular direto ainda esteja sendo avaliado, esses medicamentos mostraram melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes. A Dra. Kittleson destaca que há algo “especial” nesses medicamentos, sugerindo um efeito intrínseco na progressão da doença.
Outro avanço foi a finerenona, aprovada para doença renal crônica, que demonstrou reduzir a progressão da insuficiência cardíaca e a mortalidade cardiovascular em pacientes com fração de ejeção levemente reduzida ou preservada. Esta descoberta reabre o debate sobre os antagonistas do receptor mineralocorticoide, como a espironolactona, cujo impacto no tratamento de ICFEP vinha sendo questionado desde testes anteriores inconclusivos.
A Importância do Diagnóstico Preciso
Com novos tratamentos disponíveis, cardiologistas e clínicos gerais têm um papel essencial na identificação precoce da ICFEP. A doença está fortemente associada ao envelhecimento e a comorbidades como diabetes, hipertensão, apneia do sono e doença renal crônica. Segundo Neil Skolnik, professor da Thomas Jefferson University, aproximadamente 20% a 25% dos pacientes com diabetes apresentam HFpEF, tornando a triagem essencial para um tratamento eficaz.
Os sintomas da ICFEP podem ser sutis e frequentemente confundidos com o processo natural de envelhecimento, incluindo fadiga, falta de ar ao esforço e edema periférico. Por isso, manter um índice elevado de suspeição e realizar triagens regulares pode ser a chave para um diagnóstico precoce e um tratamento mais eficaz.
O Futuro da Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada
Os avanços recentes na terapia da ICFEP sinalizam uma nova era na cardiologia. Com diversas opções terapêuticas atuando por diferentes mecanismos, o desafio agora é identificar os pacientes que mais se beneficiarão de cada tratamento. As diretrizes médicas estão evoluindo para incorporar esses novos conhecimentos, garantindo que os pacientes recebam a melhor abordagem possível.
O aumento da expectativa de vida e o crescimento das comorbidades relacionadas tornam a insuficiência cardíaca um problema de saúde pública cada vez mais relevante. No entanto, com as recentes descobertas, a perspectiva para pacientes com ICFEP nunca foi tão otimista. Como destacou a Dra. Kittleson, “chegamos a uma era em que podemos dizer aos pacientes: ‘Temos ferramentas que podem melhorar sua vida'”.
Turning Point in Heart Failure. Medscape. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/turning-point-heart-failure-2025a10004wx. Acesso em 10 mar. 2025.